Pular para o conteúdo principal

Por que a adoção demora tanto no Brasil?

Resultado de imagem para Por que a adoção demora tanto no Brasil? PDF Imprimir E-mail

Como tudo na vida de Madonna, adotar David Banda, de 15 meses, rendeu polêmica. Chegaram a dizer que a cantora americana "comprou" o africaninho, como se fosse produto. No Malaui, onde ele nasceu, só estrangeiros residentes há mais de um ano podem adotar. Logo, a diva pop foi acusada de burlar as leis e de fazer marketing pessoal. Ela atribuiu as críticas ao fato de ter escolhido uma criança negra. Em novembro passado, justificou a decisão com a existência de 1 milhão de órfãos no Malaui, somada ao desejo de expandir a família para além dos filhos Lourdes Maria, 10 anos, e Rocco, 6. A cantora brasileira Elba Ramalho, mãe biológica de Luã, 19 anos, e mãe adotiva de Clara, 4 anos, não opina sobre Madonna: "Não falo pelos outros famosos, mas por mim e Gaetano, que temos justa intenção de ser pais. E seremos novamente, pois buscamos outra filha". Elba diz que não contou com a fama na adoção de Clara: "Não houve protecionismo por parte da Justiça. Tivemos a sorte de outros casais rejeitarem a menina, que nasceu prematura e poderia ter problemas de saúde no futuro. Convencemos o juiz de que nós a amaríamos em qualquer circunstância".

No Brasil, quem procura um filho para adotar descobre que a espera leva bem mais do que os nove meses de gestação. Os candidatos, maiores de 18 anos, casados ou solteiros, devem provar que têm respeitabilidade, equilíbrio emocional e estrutura financeira mínima para dar conta do recado. O que não quer dizer que precisam ser perfeitos. Um excesso de exigências, porém, pode ter atrapalhado Gal Costa, que adiou seu encontro com um filho adotivo. Segundo a assessoria de imprensa, a cantora baiana não conseguia comparecer ao fórum para as entrevistas com assistentes sociais e psicólogos, como a lei determina. O fato de não acertar sua agenda de shows com a do Judiciário não é sinônimo de falta de disponibilidade para a criança que adotaria - e que está crescendo como outras 80 mil em instituições. Um processo de adoção, aqui, pode se arrastar por longos anos. Não só os trâmites legais são demorados, como a burocracia é temperamental. A secretária Elienai Cantarin, 30 anos, de Londrina (PR), enfrentou greves de servidores, férias forenses e, no retorno dessas situações, o acúmulo de processos. Só foi chegar ao filho quatro anos depois. No caso da farmacêutica Susana Riquelme, 42 anos, de São Bernardo do Campo (SP), a habilitação saiu dois meses após a inscrição no fórum. O complicado foi a peregrinação para achar o bebê. Em 2003, ela e o marido informaram a preferência por menina de até 18 meses - o perfil mais procurado, enquanto as crianças disponíveis são, na maioria das vezes, meninos negros acima de 1 ano e meio. Enviaram a documentação para o Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, já que não há cadastro nacional informatizado dos 2 mil juizados da infância e juventude. Acredite: é necessário pesquisar um por um. "Ampliado o campo de busca, abrimos o perfil: solicitamos menino ou menina de até 5 anos", diz Susana. Em outubro passado foram chamados para ver um garoto de 7 meses. Nos apaixonamos na hora", lembra. O final feliz não virá. Dois meses depois, quanto o casal já estava firmando vínculo com a criança, a mãe biológica reapareceu. O juiz decidiu manter o bebê no abrigo e estudar o perfil psicossocial da mulher. Não há prazo para finalizar a análise e Susana, mesmo já apegada à criança, voltou para a fila.

Onde Emperra

A psicóloga Lídia Weber, em sua tese de doutorado na Universidade Federal do Paraná, aponta as razões da demora. Uma delas é, sim, a exigência do adotante. Ouvindo 400 famílias em 17 estados, ela verificou que 85% assumiram bebês de até 2 anos. "O limite de idade é maior que a preferência pela cor da pele", observa. Em agosto passado, das crianças liberadas para adoção e mantidas em abrigos paulistas ligados a ONGs e igrejas, 1 042 estavam com mais de 12 anos ou tinham irmãos, que a lei não separa. Estrangeiros aceitam essas condições. Hoje, há 40 mil franceses e 18 mil italianos na fila, mas eles só entram no páreo depois que os brasileiros abriram mão. A medida pretende conter a adoção internacional para garantir à criança o direito à nacionalidade. Outro fator dramático envolve a destituição do poder familiar. Com base no Estatuto da Criança e do Adolescente e no Código Civil, a criança só pode ser destinada à adoção após a sentença que tira dos parentes o direito sobre ela. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) feito em 2004 em 580 abrigos do país revelou que 88% das 19 373 crianças não estavam aptas a adoção porque continuavam legalmente ligadas aos pais. O juiz Reinaldo Cintra Torres de Carvalho, do Tribunal de Justiça de São Paulo, explica: "Não podemos privar a família de criar o filho porque é pobre. Esgotamos as tentativas de reestruturá-la para que possa receber a criança de volta". Para isso, recorrem à rede social de apoio do poder público e de ONGs. No mar de entraves com que essas iniciativas navegam, as soluções levam tempo. "Assim, a criança 'envelhece', passa da idade procurada pelos adotantes", diz Lídia.

O vínculo com os pais biológicos, porém, nem sempre é bom. Conta Lídia: "Acompanhei uma garota que foi retirada de casa com 1 ano porque sofria abuso do padrasto, mas só foi liberada para adoção aos 4 anos". Em caso de maus-tratos, abuso sexual e abandono, não seria necessário esperar. A juíza Cristiana Cordeiro, de Nilópolis (RJ), afirma que uma liminar acelera a colocação da vítima em família substituta. Mas a realidade é que só anda rápido a adoção pronta, ou seja, quando a mãe doa o bebê e aquele que o recebe vai à Justiça só legalizar a situação. "Não é o mais indicado", diz ela. "A mãe pode se arrepender e querer recuperar o filho. E não há garantias de que os novos pais sejam a melhor opção, pois não passaram pela triagem."

Um projeto em discussão na Câmara Federal, que resultará na Lei Nacional de Adoção, pode trazer avanços. "Pensamos em estabelecer prazo para o Judiciário decidir a situação da criança", conta a deputada Maria do Rosário Nunes, presidente da comissão que estuda o tema. Adriana Fortes (nome fictício), que há quase dois anos aguarda uma criança entre 1 e 3 anos, comemoraria tal inovação, pois diz que "o processo demora tanto porque a lei de adoção está contra as nossas crianças. Um juiz pode levar o tempo que quiser para destituir o poder familiar". Se o projeto for aprovado, o Ministério Público terá 30 dias para ajuizar a ação; e o juiz, 120 dias para destituir o poder familiar. Mais: será criado um bem-vindo cadastro nacional de crianças e candidatos a pais, que facilitará o cruzamento dos dados e ajudará a combater o tráfico de bebês (menor, mas ainda existente). Já o item sobre a permanência no abrigo é ineficaz. A deputada Teté Bezerra, relatora da comissão, defende que a criança seja mantida ali por até um terço do tempo que resta para fazer 18 anos. Logo, um recém-nascido poderia esperar seis anos por uma chance. Outra deficiência: homossexual adota só como solteiro. Se disser que vive com um par, pode ter o filho negado. Enquanto o Congresso não aprova a lei, as crianças continuam nos abrigos.

Para mudar o quadro, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) lança em março uma cartilha com o passo-a-passo da adoção e o documentário O QUE O DESTINO ME MANDAR, de Ângela Bastos. "Vamos mostrar que abrigo não substitui família, é só casa de passagem", diz Rodrigo Collaço, presidente da AMB. Inspirados pela campanha, os juízes bem que poderiam fazer mutirão para agilizar os processos de adoção que estão parados.

Filhos de famosos

Antes de Madonna, a atriz Angelina Jolie já havia aderido à idéia. Em 2002, nas filmagens de LARA CROFT: TOMB RAIDER, no Camboja, ela se encantou com Maddox, hoje com 5 anos. A lei dos Estados Unidos, onde ela mora, não permitia a adoção de estrangeiros. Angelina lutou e conquistou o direito. Três anos depois, ao tentar assumir uma menina, na Etiópia, enfrentou supostas mães, que reclamavam a guarda do bebê. Vencida nova batalha, Zahara, agora com 2 anos, entrou na família da atriz, que tem ainda uma filha biológica, Shiloh Nouvel, com o ator Brad Pitt. Mas a precursora é a atriz Mia Farrow, ex de Woody Allen. Dos 14 filhos, dez são adotados. Em 2006, a colega Meg Ryan se tornou mãe da chinesa Daisy, de 1 ano e meio. Outros adotaram nos Estados Unidos, caso de Nicole Kidman e Tom Cruise (Isabella, 13 anos, e Connor, 11), Michelle Pfeiffer (Claudia Rose, 13 anos) e Sharon Stone (Roan Joseph, 6 anos, Laird Vonne, 1 ano e 8 meses, e Quinn, 7 meses). No Brasil, Elba Ramalho e o marido, Gaetano, receberam Clara, ainda bebê. Os atores Marcello Antony e Mônica Torres rodaram, por nove meses, por vários abrigos até encontrar Francisco, agora com 3 anos. Já a segunda tentativa foi complicada: o casal ficaria com Clara, de 1 ano, mas os pais desistiram de entregá-la. Pouco depois, chegaram a Stephanie, hoje com 5 anos. Antes deles, Ângela Maria, Juca Chaves e Zeca Pagodinho já haviam aberto o coração para amar crianças que não puseram no mundo.

Fonte: Revista Claudia


http://gaasp.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=275%3Apor-que-a-adocao-demora-tanto-no-brasil&catid=47%3Aadocao-tardia&Itemid=67

Comentários

ᘉOTÍᑕIᗩS ᗰᗩIS ᐯISTᗩS

ELAS

  Swanepoel, sempre ela! A modelo Candice Swanepoel sempre é motivo de post por aqui. Primeiro, porque é uma das mulheres mais lindas do mundo. Depois, porque faz os melhores ensaios da Victoria’s Secret. Depois de agradar a todos no desfile da nova coleção, ela mostrou toda sua perícia fotográfica posando de lingerie e biquíni. Tags:  biquini ,  Candice Swanepoel ,  ensaio sensual ,  lingerie ,  victoria's secret Sem comentários » 29/11/2011   às 20h02   |  gatas Lady Gaga é muito gostosa, sim, senhor. A prova: novas fotos nuas em revista americana A estrela pop Lady Gaga é conhecida pela extravagância na hora de se vestir e pelos incontáveis sucessos nas paradas do mundo todo. Agora, a cantora ítalo-americana também será lembrada por suas curvas. A revista Vanity Fair fez um ensaio para lá de ousado em que Mother Monster (como Gaga é carinhosamente chamada pelos fãs) mostra suas curvas em ângulos privilegiados. A primeira foto é

Agricultura familiar conectada

  #Agrishow2022euaqui - A revolução tecnológica demorou a chegar, mas finalmente começou a transformar a vida do pequeno agricultor familiar brasileiro. Com o surgimento das foodtechs, aliado ao aumento da confiança na compra on-line de alimentos e na maior busca por comidas saudáveis por parte do consumidor, o produtor de frutas, legumes e verduras (FLV) orgânicos começa a operar em um novo modelo de negócio: deixa de depender dos intermediários — do mercadinho do bairro aos hipermercados ­— e passa a se conectar diretamente ao consumidor final via e-commerce. Os benefícios são muitos, entre eles uma remuneração mais justa, fruto do acesso direto a um mercado que, segundo a Associação de Promoção da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), movimentou R$ 5,8 bilhões em 2021, 30% a mais do que o ano anterior, e que não para de crescer. DIRETO DA LAVOURA A LivUp é uma das foodtechs que está tornando essa aproximação possível. Fundada em 2016, a startup iniciou a trajetória comercializa

DORIA NÃO MENTE

Rancho D´Ajuda

Confira quais são os principais lançamentos do Salão de Pequim 2024

  Com as montadoras chinesas crescendo fortemente no Brasil e no mundo, a edição 2024 do Salão do Automóvel de Pequim irá apresentar novidades que vão impactar não apenas o mercado chinês, como também revelar modelos que devem ganhar os principais mercados globais nos próximos anos Este ano nós do  Motor1.com Brasil  também está lá, mostrando os principais lançamentos que serão realizados na China. Além de novidades que ainda podem chegar ao Brasil, o que vemos aqui também chegará à Europa em breve. Isso sem contar as novidades da  BYD  para o nosso mercado. Audi Q6 e-tron O novo SUV elétrico da Audi se tornará Q6L e-tron. A variante com distância entre eixos longa do já revelado Q6 e-tron fará sua estreia no Salão do Automóvel de Pequim. O novo modelo, projetado especificamente para o mercado doméstico de acordo com os gostos dos motoristas chineses, será produzido na fábrica da Audi FAW NEV em Changchun, juntamente com o Q6 e-tron e o A6 e-tron. Reestilização do BMW i4 BMW i4 restyli

Feliz Natal! Canadauence.com

O estapafúrdio contrato “ultraconfidencial” entre o Butantan e a Sinovac, que não especifica valor entre as partes

  O contrato que o Instituto Butantan, dirigido por Dimas Tadeu Covas, que diz não ter relação de parentesco com Bruno Covas, prefeito de São Paulo, e o gigante laboratório chinês Sinovac, acreditem, não determina quantidade e valor unitário da vacina. A grosso modo, o contrato beneficia apenas um lado no acordo: o chinês. As cláusulas do contrato, anunciadas, em junho, como “históricas” pelo governador de São Paulo, João Dória, revelam outras prioridades que, obviamente, não tem nada a ver com a saúde da população do Brasil, como o tucano chegou a afirmar para o presidente Jair Bolsonaro, quando fazia pressão para o chefe do executivo liberar a vacina no país. A descoberta ocorre na semana em que os testes com a vacina foram suspensos devido ao falecimento de uma voluntária, cujo motivo da morte – sequer – foi informado pelo Butantan à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que é o órgão de proteção à saúde da população por intermédio de controle sanitário da produção e co

Anvisa decreta retirada imediata de marca popular de sal de mercados

  Comunicado da Anvisa: Retirada de Produtos do Mercado A  Anvisa  (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) anunciou a retirada imediata de marca conhecida de  sal  dos supermercados. A ação foi tomada após a detecção de uma  substância perigosa  utilizada durante a fabricação desses produtos. Sal Rosa do Himalaia Iodado Moído da Kinino : A Anvisa emitiu a Resolução-RE Nº 1.427, datada de 12 de abril de 2024, ordenando a suspensão da venda, distribuição e uso do lote 1037 L A6 232, produzido pela H.L. do Brasil Indústria e Comércio de Produtos Alimentícios LTDA. A medida veio após resultados insatisfatórios em testes de iodo, essencial para a prevenção de doenças da tireoide como o bócio. Macarrão da Marca Keishi : Em 2022, a marca Keishi, operada pela BBBR Indústria e Comércio de Macarrão, foi proibida de vender seus produtos devido à contaminação por propilenoglicol misturado com etilenoglicol. A substância tóxica, também encontrada em petiscos para cães que causaram a morte de 40