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Brasil do século 19, mais de 40% das cidades a internet já chegou aos celulares, mas não existe rede de esgoto


Londres



Na metade do século 19, a capital inglesa, com 2 milhões de pessoas, mal começava a ter rede de esgotoCortiços eram uma forma de habitação comum entre as famílias das classes trabalhadorasÁgua de beber era coletada em bombas instaladas nas ruas
Dejetos das fossas eram recolhidos e vendidos como esterco

Ananindeua

inglaterra, 1854. Durante a Revolução Industrial, uma maré de gente migra de áreas rurais para trabalhar na maior cidade do mundo, Londres. Pela primeira vez na história, mais de 2 milhões de pessoas vivem numa mesma cidade, muitas delas apinhadas em cortiços. O esgoto corre a céu aberto. Água é buscada com balde em bombas públicas. No início de setembro daquele ano, na hoje sofisticada região central do Soho, 500 pessoas morreram de cólera. A causa foi descoberta pelo médico John Snow (que sabia tudo) ao fazer um risquinho para cada morto num mapa que virou um clássico da epidemiologia. A contaminação veio de um cueiro de bebê com diarreia, jogado numa fossa ao lado de uma bomba de água na Broad Street. A revelação de que a causa das mortes não era o mau cheiro das ruas, como se pensava, levou à criação do primeiro sistema moderno de saneamento urbano, no final do século 19. Brasil, 2016. Em Ananindeua, cidade com mais de meio milhão de habitantes na Região Metropolitana de Belém (PA), Marilda Farias vive com sua família de seis pessoas numa casa do bairro Levilândia. Na Rua das Américas, onde mora, as casas são cercadas por uma grande vala. O bairro não tem água tratada na torneira. “Dividimos um poço com a casa aos fundos da nossa, que é da minha nora. A gente usa essa água para tudo, até para beber. Água mineral a gente só compra quando dá”, conta ela, que está desempregada. Rede de esgoto, nem pensar. Tudo vai para a rua, a céu aberto. “Tem dia que a gente não quer nem ficar aqui, de tão fedido que fica”, conta Farias. De acordo com os dados mais recentes do Ministério das Cidades, o município simplesmente não tem coleta de esgoto. Em 2011, nove a cada mil habitantes de lá foram parar no hospital com diarreia. Não são poucos os lugares no Brasil onde o século 19 não acabou — ainda que coexista com a era do smartphone. Ao menos 2.409 cidades, o que representa 43,2% dos municípios, já têm sinal de internet 3G, mas ainda não possuem rede de esgoto. A falta de saneamento, porém, passou longe das campanhas eleitorais neste ano. E o saneamento é atribuição fundamentalmente das cidades, segundo a lei 11.445/2007. “Em todas as grandes cidades brasileiras existem determinados bairros em que ainda estamos efetivamente equiparados ao início do século 20 ou ao século 19 na Europa”, afirma Marcelo Araújo, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz. A comparação não é exagerada. A definição do que é saneamento adequado varia de acordo com o tempo e a tecnologia. Hoje, dos mais de 200 milhões de brasileiros, apenas quatro a cada dez têm acesso ao mais básico padrão, a coleta de esgoto em redes. O Anuário Estatístico 2015 da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) comparou o serviço em 17 países da região e o Brasil ficou em décimo lugar. Por que isso acontece? Pelo mesmo motivo que acontecia na Londres vitoriana. Nas últimas décadas, houve uma rápida migração de pessoas das zonas rurais para as zonas urbanas do país. Tão rápida que não houve tempo para criar sistemas de saneamento adequados. Não é só em favelas e grotões que isso ocorre. Pense em locais turísticos. A Baía de Guanabara recebe 18 mil litros de esgoto por segundo. E Ilhabela, ponto nobre do litoral de São Paulo? Só coletava 28% do esgoto em 2014. Paraty (RJ), a terra da festa literária mais badalada do Brasil? Zero. Santa Catarina, terra de alto IDH e da Oktoberfest? Só 17% dos habitantes têm esgoto coletado em rede.

Hoje, a segunda cidade mais populosa do Pará, com mais de 500 mil pessoas, mal começa a ter rede de esgoto
Há 1 veículo para cada 4 habitantes, segundo o DENATRAN

Ainda sem esgoto, a cidade já começou a se verticalizar

Várias famílias compartilham poços artesianos e fossas

Em alguns bairros, o esgoto é escoado das casas diretamente para valas e corre a céu aberto



Quase 3 mil municípios brasileiros não têm rede de esgoto. Consulte no mapa abaixo como está a sua cidade



1. Clique na lupa e digite o nome de sua cidade

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5. Arraste para visualizar outras áreas do mapa

6. Passe o mouse para ver os dados de cada cidade

A origem da palavra saneamento é o latim: sanum, sadio. Foi na Roma Antiga que surgiram os primeiros sistemas, as cloacas, por onde passavam as águas de drenagem, a água da chuva, o lixo, as fezes e até cadáveres — tudo misturado. Tratamento ainda não era uma preocupação. Levou tempo para se perceber que a falta de saneamento faz com que doenças sejam letais. A diferença entre a Ananindeua do século 21 e a Londres do século 19 é que os ingleses precisaram literalmente colocar a mão no esgoto antes da época em que, sem novas epidemias letais com que se preocupar, um homem com apelido de Jack começou a afiar o bisturi no distrito de Whitechapel. Os primeiros túneis da rede de esgoto foram inaugurados em 1865, uma década depois da epidemia de cólera descoberta por John Snow. O tratamento começou no final do século 19. Já em vários pontos do Brasil, especialmente no Norte, o problema é extremamente atual. “Até mesmo as capitais, como Porto Velho (RO), Belém (PA) e Macapá (AP), possuem indicadores vergonhosos, algumas delas com quase 0% de coleta e tratamento dos esgotos”, diz Édison Carlos, presidente executivo da ONG Instituto Trata Brasil.


               



               


fonte:http://revistagalileu.globo.com/Cultura/noticia/2016/10/o-brasil-que-esta-no-seculo-19.html

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ELAS

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